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Nicolau Saião

 

POEMAS

 

(Ronaldo Braga)

 

 

O corpo sem órgãos

 

O que nos calam?

Segredos bobos, bolos?

Ou a luz nos olhos dos mortos?

 

Por que somente eu vejo

o chumbo torto

no teu amor manero.

 

O que se cala na vida

foi sempre e ainda

os toques.

 

Mas no espelho

inverso transversal do meu não-ser

entre o querer e o não querer

das sobras e das cautelas

nasce o corpo quente

em pele fria.

 

E se é somente e exatamente

faltas.

 

Mas

por e tambem

qualquer outro lado

apenas

retoques.

 

 

 

Eu vou à praia, meu bem,

Cantar amargas flores e lembrar do néctar

de teus

fartos peitos.

Desde cedo, meu bem,

aprendi

a esperar

em doidos porres,

teus solenes momentos,

e

ir à praia, meu bem,

comer as cores da noite...

Meu bem,

que me importa 

sua boca

a me olhar de dentro do nada.

Aprendi

esperar

na insensatez dos teus beijos

uma azul onírica tarde sangrenta.

Meu bem,

eu sei de seu desejo mórbido por orquídeas e laranjas,

e sei do teu amor imundo,

em velhas doces canções.

E sei:

as arvores verdes

choram tua partida,

imaginando esperas

nos cumes das madrugadas.

Eu,

meu bem,

sorria dores nos teus abraços meigos.

Enquanto os bêbados dormiam com todas as deusas.

 

(in para todos os amores não acontecidos)

 

 

 

Cintilâncias escuras

 

Uma poesia desnudando cintilâncias opacas,

nas falsas noites fervilhantes de brilhos escuros,

estupidamente rejeitando a paixão sem vergonha dos jardins do poeta.

Uma poesia despetalando zoófitos nas similitudes,

rasgando noites de recôncavo e

reencontrando as noites bêbadas nos absintos impositores e decididos.

Uma poesia-palavra sem semelhanças,

destronando e coroando significados e significantes nos vazios ocos,

morada e desprezo dos loucos primeiros.

Um poema sujo, desgrenhado,

despencando alturas em uma altivez capenga.

Uma poesia surda-assassina,

um sentimento-perigo,

traindo todos os fustes solitários e inútil,

Inútil traço latitudinário das emoções.

Sinais sem abrigo.

Uma poesia: perdição dos deuses envergonhados e das mulheres, embustecidas e coloridas nas vargens esquecidas das falsas noites cintilantes. Que grite.

Que faça.

São palavras indizíveis penetrando a carne insensata.

Um amor inadvertido e traidor.

 

 

 

 

Possesso processo de corte.

Aparição desalmada,

E desesperada de uma alma em um insistir – desalento,

Desabrochando aos borbotões, fluxos invernosos que extrapolam os verões e assassinam todos os beijos.

Uma poesia que grita o murmurar não compreendido dos amantes,

Fiéis unicamente ao seu amar.

E desafia o cantar surdo das notas insistentes.

Vida não por clemência, mas, por potencia.

Como ruminar força,

E teima a derrota da morte:

Por viver e viver e viver.

Uma canção aos corações soturnos e delicados

 

Dormindo nos cactos

E bebendo o silencio do veneno,

Na noite em que os imbecis clamavam clemência

E matavam o amor

E expulsavam para longe de seus fígados o gosto amargo da felicidade:

Eles querem o doce,

E a flor de láudano lhes indicou:

A inutilidade do mel;

E a desaparição do amor no amar comum.

Uma flor espinho

Onde o poeta  dorme o sono das crianças dos desertos sombrios

E pode conversar com suas almas nada lamurientas.

Uma flôr invisível, onde o poeta eterniza a alegria sem alarde.

E sem desespero descobre o perigoso – raivoso – impotente povo cansado.

 

 

 

 

Esquivos beijos reincidem momentos martelados em olhares surdos,

E cortejos imemoriais insistem desejos, antes tão secretos, tão desconhecidos.

E um vir teimoso nos chama. Pra onde?

Esquivos monstros persistem na carne tremula,

E arrogantes algas trancam sorrisos em beijos sofridos.

Você passado em ausentes segredos funestos e secretos,

E você presente em dispositivos legais.

E medos ocultos afloram inflexões agudas em imanentes remanências outonais,

E você futuro sorrindo rejeições de uma fatal fuga das flores,

Com suas noites irrefragáveis, e seus suores afogando peles e agitando sonhos,

E acordando meus pesadelos de águas cansadas,

Gritando e gritando saudades de afogados.

E você - você ali como um nada - tudo material e cisão de mundos.

Cisão de carne e dentes dantes sorrisos e livres.

Agora Esquivo tempo caução de tudo.

E cruel, nas nuvens pesadas de minhas noites lembranças,

Numa intensa dissimulada diminuição assintótica do condenável viver,

E sorrir condenável e ser condenável.

Bailado numa dança de mortos.

Realidade imposta nos corações outrora difratados em indiscretos beijos.

E você fragmentando calmas para sempre esquecidas

E você ausente em perigosas interrogações,

Jurando interditos amores passados – presentes e perdidos nos sentidos frívolos, Enquanto incessantes vazios e culpabilidades produzem cortes nos destemidos horrores matrimoniais.

E nas noites preconcebidas,

Deleitam sutis perversões

E povoam medos e traduzem certezas infelizes de transgressões.

E estratégia é fuga na homogeneidade formal de uma vida.

Principio e instancia:

Das luas;

E chuvas;

E sonhos;

E beijos buscados nos desesperos dos encontros inadvertidos e não censuráveis.

Você água, diluindo tempos e cantando gerânios em raios caiados.

Você musica ritmando um mundo de cores brutais em oscilantes precipícios.

Você pontes de caladas gerações.

Você, apenas, você.

 

 

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