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Henri Matisse

 

QUATRO POEMAS DE ANTON VAN WILDERODE

 

 

A árvore-das-borboletas

 

Por sobre o denso mato vai movendo

longas guias até cima. Unidos

ímpares no alto os botões floridos

malva e lilás, azul quase acolhendo.

 

Borboletas no voo e emoção

(as brancas cor de arminho oceladas)

vêem-na longe ou perto deslumbradas;

de invisível odor nasce a atracção.

 

De algures ser em voo, em convento

silente de asas e pétalas, giram

e juntas embalando-se respiram

na única vontade ao movimento.

 

 

 

Yuste (5)

 

Dif’rente a calma que tenho encontrado.

O silêncio de frutos d’ oliveira,

de carvalho seco, da sua madeira,

de mármore e pedra no lajeado.

 

Um fogo imóvel activo no lar

que nunca mais há-de ‘star apagado,

poltrona e leito nunca mais mudados,

cadeiras quietas a mesa a rodear.

 

E apenas algo audível na estival

noite quieta, na rama onde calados

pares de pássaros ficam guardados

ou a água quando rega o canal.

 

 

 

Testamento (2)

 

Cortou a pluma de ganso o estilete,

retirada está a tampa do tinteiro

e o pó de ouro, de um brilho ligeiro,

sobre os florais motivos do tapete.

 

A mão direita não sabe neste dia

como começar, com que expressões,

o atormentado pergaminho põe

como antes sempre fazia

 

e no branco a ponta da pluma

a irresolução decidido a superar.

Escrevo contra a luz do sol, a traçar

sobre o grão vazio letras uma a uma.

 

 

 

Quem vai, quem fica

 

O mundo continuará depois do pranto,

árvores jovens, adultas, baloiçantes

sobre o verde de tantas ervas deslizante,

por tudo se espraia das aves o canto,

 

as estrelas com o mesmo nome ao girar

ante outros homens com nomes alterados

em suas órbitas dadas para tempos dados

enquanto o sol durar e a luz estival,

 

um aluvião de rosas decerto haverá,

redonda neve de inverno nos caminhos

e a chuva dará suas voltas peregrinas,

e dia e noite e dia quando me vá.

 

 

(Traduções de Ruy Ventura)

 

 

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