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Camille Pissarro

 

COLHEITA

 

(Ruy Ventura)

 

para Rui Lage

 

Criámos este mundo. E outro mundo ainda.

A voz e o sangue. O teu corpo a dançar na escuridão.

A sombra da cerejeira nesta tarde sem vento.

 

Retiro, sem calor, o barro com que rebocámos a nossa alma.

Assim, despida, a pedra esboroa-se.

Somos apenas terra sem estrume que nos fertilize.

Guardamos nos olhos a semente – e alguns grãos de areia,

na alvenaria com que desenhámos esta ponte.

 

Recriamos esse mundo. E outro mundo ainda.

Os pilares rodeiam esta dança –

os mortos descendo ao coração da noite.

 

A água destrói o vinho e as videiras.

A janela guarda no poço uma língua estranha

que na tua face podemos decifrar.

 

Destruímos este mundo. E outro mundo ainda.

Amassamos sobre a eira a distância

com a fértil viagem ao poente.

 

A lama regenera a nossa sede. A água desfaz esses carvalhos

que um dia regressaram à nascente.

 

Destruímos este mundo. E outro mundo ainda.

Voz e sangue. Corpo e dança.

Na escuridão.

 

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