PEQUENA CANÇÃO DO PORTA-ESTANDARTE
Escrevo teu nome nas paredes e no chão, nos passeios, nas esquinas e nos muros do cais escrevo teu nome.
Não é sêde de vingança. Não é ânsia de terror. Não é fuga ao desvario. Não é escape de angústia amorosa nem murmúrio de sentimentos dissolutos.
Escrevo teu nome em pleno hall das casas pias, no pátio dos conventos, no frontispício das igrejas e, também, nos lugares em que a inércia brota como planta daninha.
Avise ao amigo, ao vizinho, ao soldado, ao funcionário público, aos presos, aos proscritos, aos operários em geral, que partam em silêncio; que saiam do seu mutismo, da sua indiferença escravizada, que fabrica amargura; que subam à tona das ruas para escrever o teu nome.
Diga-lhes que o caminho é amargo; que o alimento é o próprio sacrifício; que a morte é uma sementeira, onde a mutilação dos corpos servirá de adubo para integração da nova batalha.
Diga-lhes, também, que a esperança está com a juventude: pronta, unida, para abertura da marcha.
Escrevo teu nome como quem lança a semente e fica à espera da colheita.
Escrevo teu nome como quem vê no sangue a fôrça pura da vida.
Escrevo teu nome como quem prega a paz e busca a felicidade.
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